Paróquia São João Batista e Nossa Senhora das Graças
III DOMINGO DA PÁSCOA
Dia das mães
Emaús, um caminho de fé; uma caminha para a descoberta de um grande tesouro, a Eucaristia.
Neste caminho de Emáus, vamos aos poucos descobrindo a pedagogia amorosa de Deus. Ele, através da morte e ressurreição de Seu Filho, vai descortinando o coração do homem para que vejam e creiam que tudo está acontecendo conforme a sua vontade. A Sagrada Escritura atesta que a tragédia acontecida com Cristo fora predita pelos profetas. Sempre a Bíblia, ao lado dos sacramentos, vai revelar-nos o projeto de Deus a nosso respeito.
Neste itinerário de fé, que é o caminho de Emaús rumo à Jerusalém, os discípulos, verdadeiros amigos de Jesus, vão poder fazer a passagem progressiva do desencanto a respeito do Messias para uma fé de reconhecimento de sua presença real no meio deles, como salvador. Sim, o ressuscitado é o mesmo que fora crucificado, e está presente no meio dos discípulos (onde dois ou mais estiverem reunidos, eu estarei no meio deles). Jesus jamais abandonaria àqueles que escolheu para si.
Tristeza e decepção marcam o coração dos discípulos diante da única certeza que tinham, de que Jesus está morto, Aquele que iria libertar Israel fracassou bem diante de seus olhos, eles viram o seu fim, já faz três dias, e o que lhes resta senão amargar essa frustração? Somando-se a isso, bate-lhes o remoço, pois haviam abandonado o Senhor na hora da sua Paixão. Eles que haviam experimentado seu amor, não foram capazes de acompanhá-lo e ficarem com Ele. Então, diante dessa situação, a consciência e o coração são tomados de remoço, de desolação. O amigo partiu, e agora encontram-se sós, errantes, andarilhos sem rumo, sem saber o que lhes aguarda em Jerusalém. Quando não se compreende a Palavra de Deus, fica-se numa situação desconfortante, sem rumo e sem base verdadeiramente sólida para a vida.
É verdade que a morte destruiu o sonho desses discípulos.
Somente o Ressuscitado poderia fazer algo diferente no coração incrédulo dos discípulos. Somente ele poderia curar essa falta de fé, muitas vezes ingênua e infantil. Nós também sofremos desse mal. Infantilizamos nossa fé quando queremos que Jesus seja de acordo com nossa vontade.
A morte de Jesus havia cavado no coração dos discípulos um grande abismo feito de solidão, tristeza e desesperança. O vazio de suas almas precisava ser preenchido. Assim, como eles estavam tristes, alguns discípulos, na manhã de Páscoa abandonaram a comunidade, abriram mão de seus sonhos, de suas esperanças preferindo viver e voltar tristes para as suas casas. E nós, vamos viver como se Cristo não tivesse ressuscitado, como se quando lemos e ouvimos sua Palavra nosso coração não fosse mais capaz de ser inflamado por Ele? Amados irmãos e irmãs, não arde o nosso coração neste momento? Nossa fé não tem desejo de se dilatar cada vez mais para compreender o grande amor que Deus tem por nós?
A tristeza venda os olhos, obstrui a fé impedindo-a de que cresça dentro de nós. Muitas vezes nós nos sentimos sozinhos, fechados, abandonados por Deus, sem sentir sua presença, sem sentir nada. Parece que nossa esperança desapareceu. Nesses momentos, ele caminha conosco, ao nosso lado; nesses momentos Ele está mais próximo de nós, interessado em nós, acompanhando-nos em nossos sofrimentos. Ele está conosco, Ele que foi morto e ressuscitado.
Eles desabafam com Jesus. Mostra o seu erro: o erro de esperança. Esperavam o que Jesus nunca lhes havia prometido: a ressurreição da monarquia de Jerusalém. Jesus anunciou o Reino de Deus, para todos os homens, e eles queriam o Reino de Israel. Pergunto: O que esperamos do Senhor? De que maneira estamos colocando a nossa esperança nele?
Os discípulos falaram com o Senhor! Foram sinceros, sem máscaras, apresentaram suas esperanças, seus sonhos que se perdiam. Falaram com o Senhor, mesmo sem o reconhecer. Jesus escuta em silêncio, com atenção, com extrema caridade. Devemos aprender a falar com o Senhor, sobre nossa vida, nossas esperanças, nossos sonhos, nosso dia a dia. “Qual o tema da tua oração? O tema da tua vida” (São Josemaria Escrivá). Parece que Ele não nos responde, às vezes, mas é quando Ele faz silêncio para nos escutar. Ele sempre nos escuta. Nenhuma oração nossa é perdida.
Não há como ser cristão, não há como estar nesse caminho de Cristo sem escutar o Senhor nos falando nas Escrituras. Ele nos fala sempre, devemos ter sede para escutá-lo, devemos dedicar um tempo fixo, todos os dias para meditar sua Palavra. Ele nos fala sempre.
Eles reconhecem o Senhor ao partir o pão. “Fica conosco, já é tarde e já declina o dia”: sem Cristo, que explica as Escrituras, voltam às trevas, volta a decepção, a tristeza. Pedimos tantas coisas a Deus, nos falta aprender a pedir o Deus de todas as coisas. “Os não-cristãos podem perguntar-nos: o que Cristo trouxe de bom para o mundo? Continua havendo guerras, mortes, fomes, injustiças, crueldade? O que Cristo o seu Messias trouxe ao mundo? Nós cristãos respondemos: Cristo nos trouxe a Deus, o verdadeiro Deus, e isso nos basta” (Bento XVI, Jesus de Nazaré).
Se pedimos, Ele fica conosco. Ele alimentou o verdadeiro desejo nos seus discípulos, deu-lhes a verdadeira esperança. E por isso, Jesus fica conosco. Como que Cristo fica conosco?
Na intimidade, à mesa, entre amigos, os discípulos o reconhecem. “Ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e os entregou”. Isso o Senhor faz para seus discípulos sempre: em cada Missa Ele fica conosco. Eles abriram os olhos e o reconheceram, e Cristo desaparece. Na verdade Ele não foi embora, mas está presente no Pão da Vida. Ele fica como alimento para sua Igreja. A Caminhada de Emaús é uma preparação para o mistério eucarístico. Jesus lhes guiou até esse momento: quis mostrar que está vivo, entre os seus, como seu alimento. Ele é o alimento para quem está no Reino de Deus. Ele fortalece nossa esperança. Na Missa, Jesus nos explica as Escrituras, parte o pão para nós e aquece nosso coração. Ele nos dá a força para o caminho na Eucaristia.
Os discípulos retornam à Igreja. Retornam cheios de disposição, de alegria, abertos ao próximo, à comunidade. A Eucaristia nos leva aos irmãos, faz crescer a comunhão na Igreja. A Eucaristia nos une, faz-nos uma família, alegra-nos o coração.
A Caminhada de Emaús é a caminhada cristã. Podemos partir cansados, desanimados. E Jesus se faz nosso companheiro de caminhada. Escuta nossas palavras, com atenção, com carinho e caridade. Depois Ele nos fala com sua sabedoria, com sua firmeza, com seu amor total. Depois Ele fica conosco, como nosso alimento, e nos dá a força necessária para seguirmos adiante, até a meta eterna. Ele vem a nós e nos busca. Ele quer nossa pessoa toda e quer que nós o amemos, o busquemos. Ele fica por nós na Eucaristia. Em cada Missa Ele nos explica sua vontade, abrasa nosso coração com o fogo do seu amor, com o fogo do Espírito. Caminhemos sempre com Cristo, sempre na Igreja, sempre no seu amor".
Podemos dizer a Jesus, como cumprimento do salmo desta liturgia: Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto de vós felicidade sem limites. Estamos junto de Jesus e experimentamos sua felicidade na Eucaristia.
Por Pe Agostinho Cruz