domingo, 1 de maio de 2011

II DOMINGO DA PÁSCOA (por Pe Agostinho Cruz)

Arquidiocese de Belém
Paróquia São João Batista e Nossa Senhora das Graças

II Domingo da Páscoa: Divina Misericórdia e Beatificação de João Paulo II
Dia do trabalhador, Abertura do Mês de Maio

Quero, antes de mais nada, recordar a beleza e o fascínio do renovado encontro dos apóstolos com o Senhor Jesus, vivo e ressuscitado, e que também deve ser o nosso encontro pessoal. A experiência dos apóstolos, em especial de Tomé, foi uma experiência de ouvir, ver, tocar e contemplar o Ressuscitado. É um convite alegre para redescobrirmos a beleza inigualável do encontro pessoal com o Senhor, onde nosso coração deve ser dilatado sempre mais por tão grande amor que Deus tem demonstrado para conosco, fazendo-nos seus filhos pelo batismo.
Não existe prioridade maior para nós, sejamos sacerdotes, religiosos (as), consagrados (as) e batizados do que reabrir nosso interior para que Deus tenha acesso, onde Ele possa falar a nós como amigos e comunicar o seu amor sempre fiel.

“Conhecidíssima e até proverbial é a cena do (Apóstolo) Tomé incrédulo, realizada oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, não acreditou que Jesus tivesse aparecido em sua ausência e disse: ‘Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, e se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão na ferida dele, eu não acreditarei’” (Jo 20, 25). Do fundo destas palavras emerge a convicção de que Jesus é reconhecível não apenas por seu rosto quanto por suas feridas. Tomé considera que as marcas significativas da identidade de Jesus agora são, antes de tudo, suas feridas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisso o Apóstolo não se equivoca”[1].

“Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque a minha ferida. Não seja incrédulo, mas tenha fé” (Jo 20,27).  Tomé diante do Senhor reage com a mais profunda e maravilhosa profissão de fé do Novo Testamento: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28).  Nós, batizados em Cristo, devemos ser imitadores do Apóstolo Tomé, não na sua incredulidade, mas no seu reconhecimento de Jesus, como Senhor e Deus, como o Cristo e Salvador. Não permitamos que as nossas inquietações e preocupações tomem conta de nossa fé, roubem de nosso coração o desejo de ver o Senhor.
Santo Agostinho, o grande bispo de Hipona e Doutor da Graça, fez um belo comentário sobre este fato: “Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via e nem tocava. Mas aquilo que via e tocava o induzia a crer naquilo de que até naquele momento duvidava” (In Iohann, 121, 5).

São João neste seu relato pascal continua com a última palavra de Jesus a Tomé: “Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditam sem terem visto!” (Jo 20, 29). O que Jesus quis dizer a Tomé e às gerações futuras dos crentes? O que o Senhor quer dizer a nós, aqui e agora nesta celebração da Eucaristia? Nosso Senhor definiu um princípio fundamental e fundante para todos nós cristãos que viemos depois de Tomé, quis dizer-nos que somos felizes, benditos porque acreditamos sem ter que fazer a experiência empírica, palpável do Senhor, apenas acreditamos na fé da Igreja, no testemunho dos Apóstolos. São Tomás de Aquino, o grande teólogo, aprofundou essa frase do Senhor, e fez chegar até nós, a fim de que firmemos com segurança nossa fé; eis o que ele nos transmite: “Merece muito mais quem crê sem ver do que quem crê vendo” (In Iohann, XX lectio VI, 2566).

Que importância tem para nós essa experiência de fé pascal do Apóstolo Tomé? Primeiro, porque nos consola de nossa insegurança; segundo, porque demonstra que toda dúvida pode desembocar numa saída luminosa livre de qualquer incerteza; e, por último, porque as palavras que lhe dirige Jesus nos lembram o verdadeiro sentido da fé madura e nos animam a continuar, apesar das dificuldades, em nosso caminho de adesão a Ele.

O Apóstolo Pedro em sua Carta assegura-nos de que é “graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação que deve manifestar-se nos últimos tempos” (1 Pd 1, 5). A fé é um dom; nós não nos damos a fé, pelo contrário, a recebemos; recebemos da Igreja. Sim, a Igreja é a Mãe que gera e nos educa na fé de seu Senhor e nosso Salvador. Eis o testemunho da Igreja que “confessa , incessantemente, a cada geração que Ele, ‘com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição e, enfim, com o envio do Espírito de Verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a Revelação” (Conc. Ecum. Vat. II, Consti. Dogm. Sobre a Revelação divina Dei Verbum, 2).

A Igreja tem ciência que seu caminho não é diferente do caminho de seu Senhor e Mestre. A Igreja é a continuadora da ação e Cristo no meio dos homens. Ela prolonga a sua ação salvífica. A verdadeira Igreja de Cristo é alicerçada na fé apostólica, daqueles homens escolhidos por Cristo para formarem o novo povo de Israel, não mais sobre as doze tribos do Antigo Testamento, mas sobre doze homens como nós, simples, mas desejosos de Deus. É deste grupo, ou seja, da Igreja nascente, que é fruto da Páscoa do Senhor, que o Livro dos Atos dos Apóstolos transmite-nos o testemunho, de como agiam por graça e força do Senhor: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2, 42). Estes elementos são constitutivos da Eucaristia que hoje celebramos; nos garantem com fidelidade como a Igreja nasceu e como se organizava para celebrar a Ceia de seu Senhor. Amados, fazemos nesta Eucaristia aquilo que os Apóstolos nos transmitiram: Estamos neste momento ouvindo o ensinamento dos Apóstolos acerca de Jesus e de sua Igreja; estamos em comunhão uns com os outros, por isso, rezamos na oração eucarística: fazei de nós um só corpo e um só espírito; a fração do pão que logo mais iremos nos aproximar para receber é o Corpo do Senhor dado a nós como alimento; e as orações que elevamos junto como nosso coração a Deus. Continuemos, na fé a viver este mistério de amor, fruto da Páscoa de Nosso Senhor, que é a Eucaristia, seu Corpo dado para a vida do mundo.

Amados irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor ressuscitado que reacenda a nossa fé durante esse tempo pascal, aumentando em nós a sua graça, a fim de que compreendamos melhor a força santificadora do batismo que recebemos, e que nos lavou, dando-nos por seu Espírito a vida nova em seu Sangue. E ao recebermos seu Corpo e Sangue, exclamemos, no íntimo de nosso coração: “Meu Senhor e meu Deus!”.




[1] Bento XVI. Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Cristo. São Paulo: Planeta, p. 94.


Por Pe Agostinho Cruz


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